segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Preço médio do etanol será mais alto em 2011, diz Copersucar

Preço médio do etanol será mais alto em 2011, diz Copersucar
Abastecer o carro com etanol em 2011 será menos vantajoso do que nos últimos anos. A previsão é do presidente da Copersucar, Paulo Roberto de Souza, maior empresa brasileira do comércio de açúcar e etanol. Segundo o executivo, o consumidor não deve esperar grande recuo nos preços após o período de entresafra, que deve se estender até abril.

“Nesta safra deveremos ter menos volatilidade e um padrão de preço mais alto”, afirma. “Em São Paulo, onde o etanol custa em média 55% do preço da gasolina, o mais provável é que neste ano opere numa faixa de 65%”.

(O G1 publica, desde o dia 10 de janeiro, uma série de reportagens sobre as perspectivas para a economia brasileira em 2011 em diversos setores. Os primeiros temas tratados foram tributos, setor hoteleiro, microfranquias e aviação civil).

O presidente da Copersucar afirma, porém, que o preço do etanol já está no limite da competitividade com a gasolina e não deve subir muito mais nos postos. E, segundo ele, não há risco de desabastecimento. “Teremos em 2011 um volume de produção de etanol não menor do que o do ano passado".

Em entrevista ao G1 (leia abaixo), Souza diz que a que efeitos climáticos adversos no mundo e a alta do preço do açúcar têm limitado o crescimento da produção de etanol.

“O açúcar remunera hoje de 30% a 40% mais que o etanol”, afirma Souza. Ele destaca que o Centro-Sul do Brasil já responde por 50% do comércio mundial de açúcar. A commodity foi o grande destaque das exportações do agronegócio brasileiro em 2010, com expansão de de 52% das receitas. Com 18% das exportações do setor, o açúcar só ficou atrás da soja, que deteve 22% da vendas.

“O país precisa de mais investimentos em projetos greenfields (iniciados do zero), porque estamos vivendo um ciclo onde a demanda agora anda à frente da oferta”, afirma o presidente da Copersucar.

Na última safra, 55% da cana-de-açúcar comercializada pela Copersucar foi destinada à produção de etanol e 45% para a produção de açúcar. Segundo Souza, para a safra 2011/2012, a tendência é que esses índices mudem para 53% e 47%, respectivamente.

A empresa prevê comercializar 135 milhões de toneladas de cana na safra 2011/12, o que significará um crescimento de cerca de 25%. Das 8,1 milhões de toneladas de açúcar previstas, 6 milhões serão destinados à exportação. Na safra anterior, foram enviadas ao exterior 4,8 milhões de toneladas, a maior parte açúcar bruto a granel.

No caso do etanol, da produção estimada de 5,2 bilhões de litros, 600 milhões de litros devem ser exportados, volume igual ao da safra anterior. No Brasil, 87% da produção de etanol em 2010 foi destinada ao mercado interno, seguno a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica).

“O mercado internacional de álcool ainda não decolou”, diz Souza. “A exportação de álcool nos próximos cinco anos ainda deve ser marginal”, diz Souza.

A Copersucar prevê investir R$ 400 milhões em logística em 2011 e 2012, principalmente em terminais marítimos, transporte ferroviário e no etanolduto – obra do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) que vai atravessar 45 municípios, ligando as principais regiões produtoras de etanol. O primeiro trecho, entre Ribeirão Preto e Paulínia, está orçado em R$ 800 milhões e deverá entrar em operação já em 2012. A Copersucar participa com 20% do investimento.



G1 - O ano de 2010 foi marcado por uma forte alta no preço e nas exportações de açúcar. Esse cenário deve se repetir em 2011?
Paulo Roberto de Souza - O efeito climático adverso no mundo está restringindo o crescimento da oferta. Com isso, a produção cresceu menos. Os fundamentos do açúcar são muitos bons. No cenário global os preços estão altos. Portanto, no Brasil, o incentivo será tentar maximizar a produção de açúcar. As usinas vão operar no máximo que podem, mas tem limitação. Já do ponto de vista de tamanho de safra 2011/2012, devemos ter um crescimento marginal em açúcar. Foram feitos investimentos pequenos no que chamamos de "desengargalamento", o que vai permitir aumentar a produção. Vamos ter um total de cana muito parecido e uma safra um pouco mais açucareira.

G1 - Produzir etanol hoje tem sido menos vantajoso para as usinas? Isso pode comprometer a oferta?
Souza - O açúcar remunera hoje de 30% a 40% mais que o etanol. Agora, essa quantidade de açúcar é limitada. As usinas gostariam de produzir muito mais açúcar, mas se quiserem converter 70% da cana em álcool, isso não será possível. É uma questão de restrição nas fábricas, que estão operando próximo do limite de sua produção de açúcar, e o restante vai para o álcool. Mas teremos em 2011 um volume de produção de etanol não menor que o do ano passado.

G1 - Com o crescimento da demanda por álcool, a tendência então são preços mais altos nos postos?
Souza - A frota de veículos não para de crescer. Só esse ano foram 3,3 milhões novos veículos, muitos deles flex. Historicamente, o preço do etanol tende a ser mais alto na entressafra. Nesta safra deveremos ter menos volatilidade e um padrão de preço mais alto.

G1 - Isso quer dizer que o preço do etanol para o consumidor não deve baixar tão cedo?
Souza - A gente não vê espaço para um preço muito maior. Em São Paulo, por exemplo, começa a passar de 70% do preço da gasolina. Com isso, o etanol começa a perder demanda para gasolina. Para o ano, o consumidor não deve esperar que ocorra grande recuo no preço durante o período de moagem (de abril a dezembro), como foi no passado. Em São Paulo, onde o etanol custa em média 55% do preço da gasolina na época da safra, o mais provável é que neste ano opere numa faixa de 65%. Com isso, o consumo de gasolina cresce e aumenta também o volume de álcool anidro, que no blend corresponde a 25% da composição da gasolina. O álcool anidro volta a ter um crescimento um pouco mais robusto e o álcool hidratado estabiliza. Mas ficar estável num cenário de crescimento no consumo de combustíveis, significa perder participação no mercado.

G1 - O que precisa ser feito para aumentar a oferta de etanol?
Souza - Um novo ciclo de investimentos em fábricas é necessário. As usinas estão no seu limite. Existe uma concepção não muito correta que, se o preço do açúcar está muito bom ou está melhor, se produz só açúcar e não álcool. Essa flexibilidade ao longo dos anos diminuiu muito. O país precisa de mais investimentos em projetos greenfields (iniciados do zero), porque estamos vivendo um ciclo onde a demanda agora anda à frente da oferta. Num passado recente, a gente gerou uma oferta e ficou encontrando mercado para esse produto. Agora a situação é outra. É preciso encontrar um mecanismo econômico para o etanol voltar a crescer num ritmo de dois dígitos ao ano.
G1 - Quais incentivos ajudariam a aumentar os investimentos na produção de etanol?
Souza - A decisão de investimento é de longo prazo, o negócio tem que estar ancorado em etanol, açúcar e cogeração de energia. Um marco regulatório ajudaria a dar mais confiança no investimento. Hoje, a mistura de álcool na gasolina é de 25%, mas pela lei pode passar a 20%. Com 25% fixo, por exemplo, o mercado se ajustaria. A distribuidora passará a fazer mais contratos e, eventualmente, até importar. Já os incentivos para novos investimentos, a contrapartida deveria estar vinculada a contratos de fornecimento de longo prazo, semelhante ao modelo da cogeração de energia elétrica, no qual a usina faz um contrato de 15 ou 20 anos de fornecimento e tem o BNDES financiando parte do investimento.

G1 – Além da redução dos custos, o que mudará com a construção do etanolduto (obra prevista para começar neste ano)?
Souza - A principal mudança é na forma de comercialização. Hoje, o álcool é negociado na porta da usina. É a distribuidora quem manda o caminhão. Com o etanolduto, a Copersucar vai andar na frente na cadeia logística, nosso álcool passará a ser vendido em pontos avançados. E do ponto de vista de sustentabilidade, vamos tirar milhares de viagens de caminhões das rodovias. E vamos ter um custo mais barato.

G1 - Como a Copersucar analisa o potencial de crescimento das áreas de cultivo e produção?
Souza - A cana ocupa hoje metade da área ocupada por soja, então ainda tem muita terra disponível, agriculturável, que pode ser ocupada sem desmatamento. A cana está muito longe de ser monocultura no país, ainda há muito espaço para crescer. Os estados de Goiás e Mato Grosso do Sul devem ter um crescimento robusto nos próximos anos. Em relação ao mercado, o Centro-Sul do país já representa mais de 50% do mercado mundial de açúcar e pode chegar facilmente a 60% nos próximos anos.

G1 - E como você analisa o crescimento da demanda internacional por álcool?
Souza - Já há países onde há demanda maior que a oferta. Nos Estados Unidos, o governo americano aprovou um aumento da mistura de etanol de base milho de 10% para 15%. Com isso, eles estão aumentando em 50% a demanda americana que já é maior que toda a produção de álcool do Brasil. Demanda existe, o que estamos enfrentando é um problema de competitividade com a gasolina, que é um mix de preço do petróleo e câmbio.

G1 - O volume de exportações de álcool ainda é muito pequeno. Isso tende a mudar a curto prazo?
Souza - O mercado internacional de álcool ainda não decolou. Os grandes mercados hoje são Brasil e EUA, abastecidos por produção local. O mercado europeu é um mercado onde o Brasil deve ter uma participação crescente. A exportação de álcool nos próximos cinco anos ainda deve ser marginal. Então, a grande bandeira de que o futuro do etanol é exportação não parece ser uma realidade próxima. Mas os mercados estão sendo criados, há o apelo ambiental, o sucesso do etanol como aditivo continua, o sucesso do carro flex no Brasil é indiscutível, então o mercado está aí, só é uma questão de tempo.   


Fonte:  Coisas de  Maceió

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(Jó 11:18) - E terás confiança, porque haverá esperança; olharás em volta e repousarás seguro.

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